O papel da Neurociência na compreensão e no apoio às pessoas com autismo

O autismo é um transtorno de desenvolvimento que afeta a forma como uma pessoa se comunica e interage com o mundo ao seu redor. Estima-se que cerca de 1% da população mundial tenha algum grau de autismo, que pode variar desde casos leves até severos. O autismo é considerado um espectro, pois engloba uma ampla variedade de sintomas e níveis. Algumas das características mais comuns do autismo são:

– Dificuldades na comunicação verbal e não verbal, como falar, entender, usar gestos e expressões faciais;

– Dificuldades na interação social, como fazer contato visual, compartilhar interesses, entender emoções e intenções alheias;

– Comportamentos repetitivos e restritos, como balançar o corpo, alinhar objetos, seguir rotinas rígidas e ter interesses específicos;

– Hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como sons, luzes, toques e cheiros.

O autismo é um transtorno complexo e multifatorial, que envolve uma combinação de fatores genéticos e ambientais que afetam o desenvolvimento do cérebro. A neurociência é a ciência que estuda o funcionamento do sistema nervoso, incluindo o cérebro, e pode trazer insights valiosos para o entendimento e o tratamento do autismo.

A neurociência tem contribuído para a identificação de diferenças estruturais e funcionais no cérebro de indivíduos com autismo, usando técnicas de neuroimagem, como a ressonância magnética e o eletroencefalograma. Essas técnicas permitem visualizar a anatomia e a atividade do cérebro, e comparar com o cérebro de pessoas sem autismo.

Uma das principais descobertas da neurociência é que o cérebro autista apresenta alterações na conectividade neural, ou seja, na forma como as diferentes regiões cerebrais se comunicam entre si. Em geral, o cérebro autista tem menor conectividade entre regiões distantes, que são responsáveis por funções cognitivas complexas, como a linguagem e a empatia, e maior conectividade entre regiões próximas, que são responsáveis por funções sensoriais e motoras. Essa diferença pode explicar porque as pessoas com autismo têm dificuldades em processar informações sociais e abstratas, e tendem a se focar em detalhes e padrões.

Além disso, a neurociência tem investigado os mecanismos moleculares e celulares que estão envolvidos no autismo, como os genes, os neurotransmissores e os circuitos neurais. Estudos têm identificado vários genes que estão relacionados ao autismo, e que podem afetar o desenvolvimento e a plasticidade do cérebro. Os neurotransmissores são substâncias químicas que permitem a comunicação entre os neurônios, e alguns deles, como a serotonina e o glutamato, podem estar alterados no cérebro autista. Os circuitos neurais são conjuntos de neurônios que realizam determinadas funções, e alguns deles, como o circuito da recompensa e o circuito da teoria da mente, podem estar comprometidos no autismo.

A compreensão dos mecanismos cerebrais subjacentes ao autismo pode ajudar a desenvolver novas abordagens de diagnóstico e tratamento. Por exemplo, a neurociência pode ajudar a identificar biomarcadores, que são indicadores biológicos que podem ser medidos para detectar o autismo precocemente, antes do aparecimento dos sintomas comportamentais. A neurociência também pode ajudar a criar terapias baseadas em neurociência, que são intervenções que visam estimular ou modificar o funcionamento do cérebro, como a estimulação cerebral não invasiva, a terapia cognitivo-comportamental e a terapia assistida por animais.

A neurociência é uma área de pesquisa em constante evolução, que traz novas perspectivas e desafios para a compreensão e o tratamento do autismo. Além disso, pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com autismo, ao oferecer um maior conhecimento sobre suas características, necessidades e potencialidades. E também, pode contribuir para a redução do estigma e do preconceito em relação ao autismo, ao promover uma visão mais científica e humanizada.

A neurociência é uma aliada fundamental para o avanço do conhecimento e da intervenção no autismo, buscando valorizar a diversidade e a inclusão das pessoas com esse transtorno.

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